Notícias

Carta aos Engenheiros Agrônomos de Mato Grosso do Sul

Campo Grande, 10 out 2019 às 22:59

Carta aos Engenheiros Agrônomos de Mato Grosso do Sul pelo dia 12 de outubro

Por ocasião da comemoração dos 86 anos de instituição do Dia do Engenheiro Agrônomo, fato este que rememora à assinatura do Decreto 23.196 em 12 de outubro de 1933 pelo presidente Getúlio Vargas, sendo a primeira profissão regulamentada por lei no Brasil. Essa história, que já pude escutar pessoalmente do Eng. Agr. Fernando Penteado Cardoso, que participou do processo, à época ainda estudante, provoca comoção e reforça o espírito de responsabilidade que recebemos com nossas atribuições.

O engenheiro agrônomo é o profissional que se encarrega pelos processos de produção de alimentos, bioenergia e gestão dos ecossistemas, produtivos ou não. Essa singela definição traz consigo nossas atribuições profissionais e com elas grandes responsabilidades. Quero me ater em três pontos os quais nossa categoria profissional precisa estar atenta às mudanças nos últimos tempos: a Conservação do Solo, a Receita Agronômica e Agricultura 4.0.

Por trás da Conservação do Solo, termo que importamos de forma equivocada da língua inglesa, está que o que melhor se adequa para o que se quer afirmar: o Manejo do Solo. Essa ciência esta intimamente ligada à gestão dos recursos naturais, principalmente a água, fator preponderante à produção agropecuária e vida humana. Precisamos estar cada vez mais atentos as orientações realizadas e buscar mais conhecimento e tecnologias sustentáveis na gestão do ambiente ao qual a produção está inserida.

O Brasil é líder mundial na adoção do Plantio Direto, mas temos vistos problemas com erosão voltando a aparecer em nossos campos, o que demonstra que precisamos rediscutir e atualizar o alguns de nossos sistemas de produção, a fim de evitar desequilíbrios ambientais.
Atrelado ao sistema de produção, temos o desafio de fazer a cada dia a recomendação correta e segura dos insumos: Sementes, Fertilizantes e Pesticidas. Nesse âmbito, o principal instrumento de trabalho do engenheiro agrônomo tem sido alvo de questionamento de sua validade: a receita agronômica.

A receita agronômica é a materialização do processo de recomendação. Por definição a receita é o documento e o receituário é todo o processo de recomendação, baseado em informações técnicas, na cultura e em seu desenvolvimento. Como técnicos que somos, sabedores do ciclo dos organismos que possam interferir nesse desenvolvimento (insetos, ácaros, nematoides, patógenos, plantas daninhas e outros) estamos aptos a fazer nossas recomendações, sejam preventivas ou curativas. A legislação nos dá essa prerrogativa e assim o fazemos.

Portanto, das várias vezes que somos julgado por leigos que não compreendem a execução desses processos, precisamos demonstrar que sim!, precisamos de mais agrotóxicos: que sejam mais eficientes, mais seguros, mais seletivos e menos impactantes ao meio ambiente e ao homem!
A explosão de novos agrotóxicos biológicos a base de organismos como fungos e bactérias é a revolução que já começou e está chegando em nossas lavouras. Estou seguro que estamos vivendo o momento de mudança de paradigma do Manejo Integrado de Pragas, e no horizonte de 5 a 10 anos teremos um novo modelo de controle de pragas muito mais moderno e seguro a todos os entes do processo.

A terceira mudança que impactará nossa profissão é a introdução das tecnologias 4.0, que se trata da inserção de técnicas e tecnologias de processamento de dados e informações aplicadas ao campo. Nenhum setor é tão adepto da aplicação de novas tecnologias quanto à agricultura. O aumento da produção que aconteceu no Brasil nos últimos 50 anos, sem que o que houvesse aumento de área na mesma proporção, se deu pelo aumento considerável de produtividade, tanto que somos líderes da produção de várias culturas, utilizando somente 7% do território nacional, segundo a Embrapa.

A soja é o caso que melhor explica, saímos de um potencial de 1.500 kg/ha no fim da década de 60 para mais de 6.000 kg/ha nos dias atuais, empregando de forma racional os fertilizantes, pesticidas, adequando a distribuição espacial e densidade e investindo no melhoramento genético.
A partir de agora a preocupação é com cada planta ou animal, entendendo que eles são a unidade de produção, e não mais o hectare ou o metro quadrado. Com isso estão chegando os drones, imagens de satélite, controle de dados por software, sensores, mapas e tantos outros. Mas ainda assim, o pano de batida e o teodolito continuarão a ser imprescindíveis para checar a informação in loco, e o engenheiro agrônomo continua sendo necessário para auxiliar o produtor a escolher a melhor ferramenta e tomar a melhor decisão. Antes do hardware e do software, o peopleware continua sempre fundamental no processo.

Com tudo isso vem a responsabilidade da atualização e da formação dos profissionais, as escolas precisam adequar seus currículos e os profissionais precisam entender novos termos, como compliance, e novas técnicas/tecnologias, como blockchain, que irão interferir no dia-a-dia de nossa profissão.

Para quem sempre ouviu falar que a Agronomia é a profissão do futuro, tenho a impressão que ele chegou, e que precisamos encarar com novas atitudes, consciência e responsabilidade. A dita Sustentabilidade só se alcança com equilíbrio entre o cuidado com o espaço e as pessoas e a eficiência econômica do processo. Não existe sustentabilidade em ambientes desequilibrados, sem foco nas pessoas, ou que não tenha rentabilidade financeira.
A consciência dos consumidores é o principal motor da sustentabilidade: todos queremos uma comida sadia e barata, nossa responsabilidade é fazê-lo, como já temos feito. O novo desafio é comunicar e demonstrar o que já fazemos, e fazer muito mais e melhor.

As perspectivas são boas, a mudança que vem será grande, e estou seguro que pela formação e atuação, os engenheiros agrônomos de Mato Grosso do Sul estão preparados para este processo, contem com nossas entidade regionais e com a Associação os Engenheiros Agrônomos de Mato Grosso do Sul – AEAMS para enfrentarmos os desafios que estão por vir!

Parabéns pelo nosso dia e saudações Agronômicas!

Eng. Agr. Antonio Luiz Neto Neto
Presidente da Associação de Engenheiros Agrônomos de MS (AEAMS)